Muitos relacionamentos terminam por falta de diálogo. Muitos relacionamentos nem começam, por falta de diálogo. Quando perguntamos a uma pessoa se está tudo bem, em 90% das vezes ela responderá que sim, mesmo que esteja tudo indo mal. Nós estamos sempre esperando que as pessoas ‘leiam nossos sinais corporais’, o rosto fechado, os braços cruzados, o olhar distante. Na Era da Comunicação, nós nos comunicamos extremamente mal.
Ontem estava lendo um artigo que falava sobre “Sinais Corporais” e de como algumas pessoas não entendem nossos sinais corporais em um determinado momento, em uma interação ou até mesmo em um diálogo entre casal. Veja bem, de todas as espécies existentes no Planeta Terra, a espécie humana só chegou onde chegou por um único motivo: Aprendeu a falar. Parace estranho, não? Antes disso, ao longo da evolução, que começou há cerca de 4 milhões de anos atrás, até o desenvolvimento da fala, cerca de 400 mil anos atrás, nos comunicávamos por meio de urros, gestos ou sinais, como nossos primos mais próximos, os chimpanzés, que possuem DNA 98% semelhate ao nosso. Mas, parece-me que, apesar de dominarmos bem a comunicação labial, a fala e a escrita, ainda utilizamos instintivamente meios de comunicação primitivos.
Chimpanzés falam, mentem e recitam poesias com a linguagem dos sinais, é o que revela a pesquisa dos psicólogos Deborah e Roger Fouts, do Instituto de Comunicação entre Humanos e Chimpanzés da Washington University. Eles estudaram a linguagem dos chimpanzés por 40 anos, refutando a teoria do renomado linguista Noam Chomsky, que negava essa possibilidade. Isso mesmo, os seres humanos demoraram 40 anos para entender os sinais corporais dos chimpanzés. Se os chimpanzés falassem, demorariam 4 meses.
Se você vai ao médico, prefere que ele o examine apenas mirando um feixe de luz em seus olhos e colocando um palito em sua língua para ver sua garganta, ou prefere relatar a ele o que está sentindo? Da mesma forma, se você vai ao psicólogo, prefere que ele apenas analise seu comportamento, ou prefere relatar o que está se passando? 2% de DNA humano, nossa ‘vantagem’ sobre os chimpanzés equivale a 120 milhões de unidades de informações (letras/bits), ou aproximadamente 4 mil livros de 500 páginas. Que sorte (a deles). A comunicação gestual continua sendo importante, há até mesmo livros sobre como interpretar os sinais do corpo, como o publicado em 1973 por Pierre Weil, intitulado “O Corpo Fala: A linguagem silenciosa da comunicação não-verbal” (Editora Vozes, 2014, 74ª ed.).
Relacionamentos positivos carecem de comunicação. “Se a boca se cala, falam as pontas dos dedos”, já dizia Freud. Ocorre que é muito mais fácil falar, mas por que nos calamos? Sociólogos afirmam que é por medo da reação do outro. Dizer ‘não’, por exemplo, é um desafio para muitas pessoas, principalmente para pais e mães. Portanto, se explorarmos melhor nossas capacidades cognitivas, se formos assertivos, empáticos e bons ouvintes, nossas relações podem melhorar significativamente, seja entre um casal, seja no diálogo entre pais e filhos, no trabalho, na escola e até mesmo no meio virtual. Quanto aos chimpanzés, eu acredito que eles estejam em vantagem.
Evandro Borges